Olha, não quero fazer um post daqueles tristes, que todos fugimos. Hoje com as mídias sociais, só queremos ver coisas bonitas para invejar a vida do vizinho, afinal, a grama do vizinho é sempre mais verdinha, né?
Para a alegria dos invejosos de plantão, tenho uns que me seguem nas redes sociais, que (rindo aqui) vão ficar felizes com o relato que vou fazer agora.
Não, minha grama não tá verdinha. Pode ser que para outra pessoa esteja, mas para mim, para minhas expectativas de vida, não está!!! Em muitos momentos penso muito se fiz besteira em vir pra Espanha, acho que não, pois todos os amigos que ficaram no Rio de Janeiro dizem que ali está absurdo de ruim. Mas a verdade é que aqui a coisa não está nada boa, volto a dizer, para as minhas expectativas.
Quando me mudei, tinha ilusão de uma vida diferente em muitos aspectos. Esperava mais facilidades, afinal já vim com documentação e com lugar para morar, mas que nada, tá sendo difícil pra caramba. É muito difícil fazer amigos, muito difícil conseguir trabalho de qualidade pra mim e mais difícil ainda, conseguir trabalho para o Enrique, que já está há 2 anos parado.
Em alguns pontos, aqui estou muito melhor que no Brasil, um deles demorei uns 6 meses para perceber. No Brasil já estava tão acostumada com a falta de segurança que não vi que estava com um comportamento beirando a neurose, tudo por hábitos que fui adquirindo para me sentir mais protegida. Ali já não usava relógio e nenhuma outra jóia, nem que fosse de pouco valor. Também não falava ao celular na rua, se um cliente me ligasse, eu sentiria pela vibração e entraria em alguma loja para atender, jamais na rua. Aqui, tudo mudou, posso andar na rua as 3 ou 4 da madrugada, com celular na mão, relógio, anel que nada me acontece. Sei que se estivesse em Madrid ou Barcelona não poderia fazer, mas tampouco faria se estivesse numa Cidade de interior no Brasil. Ou seja, sim, vivo num lugar muito tranquilo. Como disse, demorei 6 meses para perceber, para cair a ficha e, pouco a pouco, desacelerar.
Saúde e educação, são outros dois pontos a considerar, e que são muito melhores quando comparados com os do Brasil. Do meu ponto de vista a saúde pública daqui é similar a privada do Brasil, e a educação pública, é superior a de muitos colégios privados no Brasil. Eu acredito que nossa analise de bom ou ruim é sempre com base em experiências anteriores. os espanhóis reclamam porque a qualidade tanto da saúde como do ensino já foi melhor do que é hoje, mas para mim, que posso comparar com o que tinha no Brasil, digo que aqui estamos muito melhor. Os dois serviços são públicos e funcionam de igual a superior que os particulares, o que me dá muita tranquilidade, sei que meu filho sempre estará bem assistido aqui.
Só que a vida não é só isso, e aqui muitos dias me sinto triste, muito triste. Não sou apaixonada pelo meu trabalho daqui e sinto falta da rotina de trabalho flexível que tinha. Sinto falta do trabalho criativo que fazia com muitos dos meus clientes. Sinto falta do meu escritório em casa, do armário cheio de amostras, do café que tomava quando estava falando com alguma pessoa, do cigarro que fumava na varanda quando parava para ver as árvores do condomínio. Sinto falta do trabalho bem feito e bem remunerado.